Cada um colhe o que merece

Chega, acabou a paciência. Vocês que me conhecem sabem o quanto eu sou estudioso de automobilismo e o quanto me preocupo com tudo que envolve o assunto: carros, autódromos, segurança e os cambal. Mas tem uma hora que a coisa vai acumulando e a paciência não aguenta. Do que estou falando? Dos autódromos do país? Da segurança? Não! Dessa vez, o assunto é muito maior. Envolve tudo.

Vamos começar. Felipe Massa está fora da Ferrari. Não tem time para o ano que vem, não se sabe para aonde vai. Ele é o único piloto brazuca na categoria máxima do automobilismo e se ficarmos sem ele, será a primeira vez desde o Grande Premio da França de 1970 que ficaremos sem representante na F1. Felipe Nasr? Pode esquecer. O título da GP2 não será dele, apesar de existirem possibilidades matemáticas. E isso pesa demais para conseguir uma vaga. Provavelmente conseguiria, numa Marussia ou numa Caterham da vida, o que cá pra nós, é humilhante. Claro, que tem o jogo da Rede Globo que, com medo de perder os direitos sobre a categoria, o GP do Brasil, deve estar com o cu na mão para arrumar uma vaga para Massa em algum time de destaque, algo que não tá nada fácil. A Lotus não quer. A McLaren já renovou com Button e não tá comendo cocô pra dispensar a grana do Sérgio Perez. A Williams… (opa, é time grande, pula essa). Enfim, se formos cair um pouco o nível, a Sauber, o Massa não quer. E é justamente na equipe da Monisha que tem outra especulação: Barrichello correndo pela equipe em Interlagos esse ano e efetivo no ano que vem. No meu ver, é uma pataquada. Rubens está com 41 anos, está de boa na Stock Car, engordou e não vai ter uma performance boa nos monopostos. Sem contar o fator principal na Formula 1: dinheiro. Tem o russo lá que até agora eu não decorei o nome, tampouco como pronuncia, de 18 anos, sem superlicença, mas cheio do dinheiro. O Barrichello seria companheiro de equipe dele, mas isso implicaria na digressão de Esteban Gutierrez. O problema que o mexicano leva muito dinheiro pra equipe e fora que a presença de um mexicano a mais é fator relevante para a confirmação da corrida no Hermanos Rodriguez ano que vem. E o saldo disso tudo é que o Brasil corre risco de ficar sem piloto.

Isso acontecendo, aí uma coisa vai ser jogada no ventilador. A Formula 1 não tem mais a mesma audiência desde a morte do Ayrton Senna. Se tem um jogo do Penarol do Amazonas (nada contra os amazonenses, ok?) contra o Flamengo, domingo, 14h., e no mesmo dia, Grande Premio do Canadá, pode esquecer a corrida. O máximo que você vai ver, vai ser um mega compacto de 15 minutos ou menos depois do Domingo Maior. Brasileiro não gosta de corrida, afinal muitos afirmam que a F1 só teve graça na época do Senna, que o Barrichello é um péssimo piloto, que acabou com a carreira do Massa quando a mola do carro da Brawn soltou e atingiu o capacete do piloto. Tá certo que tudo isso aí é coisa de gente que não entende de Formula 1 e quando não assiste, é um favor que faz. O problema é que falta de audiência, é prejuizo. Quando a F3000 era transmitida no sábado na Globo em 2002, ninguém assistia, a criançada ficava puta da vida porque interrompiam a TV Globinho pra passar briga entre Giorgio Pantano e Tomas Enge e a emissora cortou isso. O mesmo foi com a MotoGP: sem Alex Barros, ninguém queria assistir e a transmissão foi para os canais fechados. A CART nem se fala: a categoria já andava mal das pernas e quando Sebastién Bourdais começou a ganhar igual um louco, a audiência caiu em tudo quanto foi canto do mundo.

O risco é justamente esse: ficar sem a F1 na Globo. Se isso acontecer, infelizmente não há nenhuma outra emissora pra assumir a pica. O SBT não quer: não se interessa em esporte, não tem narradores, e em 1998, Gugu Liberato odiava ter que interromper a corrida dele pra passar a CART. Você acha mesmo que a Eliana vai gostar de parar aquela porcaria do Ciência e Show para passar corrida em Austin? Nunca! A Record, tratou a extinta categoria americana citada acima igual lixo em 2001 e 2002 e portanto, carta fora do baralho. A Band, não tá dando conta nem da Indy, imagina de outra categoria. A Redetv, mesmo caso da Record. Enfim, a saída da F1 caso a Globo perca os direitos de transmissão seria, infelizmente os canais fechados, como Sportv, ESPN e Fox Sports. Isso teria um lado ruim, pois tem muita gente que gosta de corridas mas não tem condições geográficas e nem financeiras para bancar TV a cabo, ainda mais com canais esportivos, que é um absurdo nesse país. Mas também teria o lado bom: a corrida teria um lugar digno, com bons comentaristas, narradores e horário decente. Não dá pra aguentar Galvão Bueno que não entende porra nenhuma de corrida, corridas que são cortadas depois do pódio e sem entrevista coletiva, sem nenhuma interação dos jornalistas com o público e o pior, ninguém pode falar nome de nada, marca de nada, nem sequer o nome “Indy” (tem que falar “automobilismo norte-americano”). Pro inferno, meu! Seria excelente se todos tivessem acesso a uma transmissão de qualidade. Mas cada um colhe o que merece. Por que? Fica aí, porque agora que vai piorar.

Dentro do país, o automobilismo anda de mal a pior. Um esporte que não tem incentivo do governo, não tem um comando decente, uma administração de merda. A CBA está igual Cavalo de Sete de Setembro para o que acontece no esporte. Tivemos o caso da motociclista Wanessa Daya que morreu vítima de um acidente no circuito de Brasilia, o kartista que morreu lá no Pernambuco. Isso sem contar a notícia do possível fim do Autódromo de Curitiba e o cancelamento da São Paulo Indy 300. Isso tudo em 2013, uma merda atrás da outra. O que o Sr. Cleyton Pinteiro fez até agora? Nada! Nunca nem vi esse cara aparecer em algum meio da mídia para dar uma satisfação sobre a quantidade de absurdos que anda acontecendo. Aí quando penso que tudo está ruim, vem a notícia que a corrida de Brasília do Campeonato de Marcas e da F3 Sudam está sendo organizada por quem: José Argenta, dirigente que presidia a Federação Brasiliense de Automobilismo, que foi desfiliada da CBA e que foi acusado de desvio de dinheiro. A empresa responsável pela cronometragem do Autódromo Nelson Piquet, a Race Control saiu fora e o controle de prova ficou a cargo da Federação do Guará, que é comandada por Argenta. O resultado foi vergonhoso: os comissarios não sabiam de porra nenhuma e ao invés de prestarem atenção na corrida, ficaram o tempo todo mexendo no celular.

"Formula 3 Cross Country": só em Brasília mesmo!

“Formula 3 Cross Country”: só em Brasília mesmo!

Teve acidente, nada de bandeira amarela. E que acidente: o carro do piloto da F3 Rafael Rucci decolou na curva zero e parou alguns metros a frente totalmente danificado. Sim, a curva zero, aquela que foi reformada antes da corrida da Stock e que tava soltando a tampa do bueiro. Imagina se é uma moto que decola ali. O risco iminente de mais uma fatalidade não assusta a CBA, que permanece calada a respeito.

Por fim, temos a notícia de que querem trazer a MotoGP de volta para o Brasil, justo em Brasília. Quer saber o meu veredicto? Não tragam a categoria das motos pra cá. Esse final de semana assisti a corrida no circuito de Aragón Motorland, na Espanha. O autódromo foi inaugurado há três anos, mas é uma coisa linda de se ver. É um país que investe no esporte, tanto que foram três corridas: dos nove lugares no pódio, sete foram espanhois. Você acha mesmo que as coisas vão mudar até ano que vem? Não, não vão! O automobilismo no Brasil não é mais o mesmo, é um esporte que se encaminha para a falência múltipla, vítima do câncer da corrupção, dá má-administração, de gente que não entende no lugar errado. Não falo apenas do Pinteiro, do Argenta, mas sim de todo o poder público: Secretaria de Esportes, Ministério do Esporte, Governo Federal. Um país que, quando se fala de esporte só se preocupa com futebol não merece mesmo ter um brasileiro na F1, não merece uma corrida da MotoGP. Cada um colhe o que planta.

Argentina pronta para a MotoGP. Na contramão do nosso país.

Argentina pronta para a MotoGP. Na contramão do nosso país.

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